Santos de Barro...

Euna Britto de Oliveira

Era meio-dia,
A chuva caía mole, sem relâmpagos,
Igualzinha a algumas chuvas do princípio do mundo,
Igualzinha a umas chuvas de desde que o mundo é mundo!!!...
Deus estava de terno,
Eterno e infinitamente justo!
Quanto a mim, parei um instante
Para avaliar e admirar a sua belíssima coleção de todos os nascimentos
Que já existiram sobre a Terra...
E não evitei pensar na sua incompreensível coleção de todas as mortes,
Correspondente à dos nascimentos.

Sem exercício, meu corpo dói.
Uma dorzinha manhosa...
Acostumadas com exercícios físicos,
Há umas partes do meu corpo
Que reclamam mais movimento!
É o sentimento do corpo.
Ou o seu ressentimento...

Quem é moleiro, mói.
Quem é vaqueiro, toca o berrante e conduz o gado!...
E eu, que ainda não sei o que sou,
Observo, sinto, escrevo,
Cuido dos cães e das plantas,
Faço uma casa sem cozinha,
Endivido-me no exercício do poder de fazer,
Fazendo mais do que posso
E bem menos do que gostaria...

Estou num patamar em que não censuro mais nada.
Censura e julgamento não fazem parte do meu ofício
E isto me liberta muito!
Não censuro nem julgo
A mulher madura que se veste como adolescente,
Nem a que fala artificial, querendo ser sensual,
Nem a que namora rapaz novo...
Todos são seres vivos
E o que acho feio é imobilizar, gelar,
Morrer na hora que se tem pra viver,
Anular-se, aniquilar-se, não se auto-estimar!...

Até levantar um dedo é lindo!
Por que achar feio o movimento inofensivo
E não-violento de quem consegue, de alguma forma, Expressar-se?
Todo sinal de vida é válido!
Contanto que não prejudique a ninguém!

Pela vida,
Vou seguindo carinhosamente,
Carregando o andor com cuidado,
Porque o santo é de barro...

Dependendo dos olhos com que vemos o mundo,
Tudo brilha, tudo é luz!!!...
O que tinha de ser depositado na urna dos merecimentos,
Coloquei aos pés da Cruz!
No mais, a Justiça fará jus...

BH, 28/12/1992
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Ilustração : Mitologia - As Três Graças

RUBENS, Pieter Pauwel
Flemish painter (b. 1577, Siegen, d. 1640, Antwerpen)

Fonte: http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/c/chantrey/sleep_cx.html


The Three Graces
1639
Oil on wood, 221 x 181 cm
Museo del Prado, Madrid

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Dedico este poema à querida Olga Lopes Costa,
para quem TUDO BRILHA, TUDO É LUZ!...
Lá em Salvador
e por onde quer que ela vá!...
Uma pessoa de Deus.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.