Doce Lembrança

Euna Britto de Oliveira

De vez em quando,
Vazo para um outro tempo,
Para uma outra dimensão;
Quando as coisas apertam
Ou ficam devagar demais...
É assim que dias difíceis passam
E dias de marasmo não custam a passar.
Extravaso...

Fogão de lenha de cozinha antiga,
Teto enegrecido de picumã,
Fuligem...

Cozinha da casa de minha Vó,
Câmara de Deputados, não!
Câmara de segredos... que certamente
Já sumiu do mapa, porque a casa já ruiu...
Eu ainda te guardo e te resguardo
Na despensa do meu coração.
Maria!
Rosa!
Rosa...
Maria...
Para guardar segredo, ser como um tacho!
Tacho de cobre,
De fazer doce.
Caiu ali, ficou!
Comparação de criança,
Da criança que fui um dia.
Sempre fui boa pra comparar.
Assistia à fabricação de todos os doces daquela fazenda.
Doce de leite, doce de goiaba,
Ambrosia, baba-de-moça...
Achava legal a cumplicidade do tacho,
Suportando tudo,
Tudo por uma boa causa – o doce!
Para mim,
Nada era mais continente que um tacho!
Nem mesmo os Continentes, dos quais eu não fazia a menor idéia!

Ele podia conter qualquer doce.
Eu poderia conter qualquer segredo!
Perto de mim,
As empregadas falavam em códigos,
Que eu não entendia,
Mas sabia que eram códigos...
Isso aguçava minha curiosidade!
Se confiassem em mim,
Eu seria muda como aquele tacho de cobre.
Mas quem disse que confiavam?...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.