Geodo

Euna Britto de Oliveira

Dei para a lavadeira,
De presente,
Uma caixa de bombons com um laço de fita vermelha
Desenhado na tampa,
Talco e uma caixa de sabonetes.
Falta de criatividade
Ou até de sensibilidade!...
Sabonete e talco,
Um pra lavar, o outro pra caiar
A pele dessa amiga limpa,
Que eu amo é preta mesmo!
Com a alma tinindo de branca por dentro,
Brilhante como um geodo
Que por fora é pedra tosca,
Por dentro, inesperada beleza!...
Essas mãos pretas de palmas cor-de-rosa,
Que lavam meus encardidos...

Miséria séria e minha,
Que vou sacudindo
Com o bico da caneta!...
Que vou acudindo
Com uma nota na caderneta...
Estou repleta de idéias,
Cabeça parecendo um caldeirão de bruxa.

Brusca humanidade,
Sempre curtindo uma falta,
Sempre em busca de algo!...
Temos nós
Mas não temos nozes;
Queremos fazer mingau
Mas não há fubá;
Biscoito frito, mas falta ovo;
Tudo que a gente quer é assim,
Sempre falta alguma coisa.
É assim a vida do povo.
Hoje é Ano Novo.
Não uso roupa nova
Mas uso seda.
A seda sempre foi um sedativo para minha pele
À flor do corpo...
Se pinga gordura numa blusa de seda,
Dona Almezina põe talco por cima,
Cobre com um pano fino
E passa o ferro quente.
A gordura passa pra o talco
E sai da seda...
Talco serve também pra isto!
Eu saio da culpa...

BH - Escrito em 1983
Transcrito em 9 de julho de 2006
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Ilustração: Foto de um pequeno geodo.
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Ofereço este poema a D.Almezina Maria de Jesus,
Amiga pra ninguém botar defeito!
Deus a abençoe, proteja e guarde, sempre!...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.