Palavras empregadas

Euna Britto de Oliveira

Inspirado no poema: BREU – de Dionísio Teles


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Dionísio,
Em seu poema,
Fala em breu, unha-de-gato, careta, espantalho, negrume...
Emprega palavras que nunca usei em meus escritos,
Mas nunca, mesmo!

Ouvi falar da ilha do Breu, na Região dos Lagos.
Breu – essa palavra me acompanha
Desde a infância
Como um lacre,
Assim como tantas outras
E a palavra enxofre.
Este, num tempo sem água mineral,
Minha avó colocava no pote
Para purificar a água.
Pedras de enxofre, amarelas...
A fazenda era grande / A casa era grande / O pote era grande
E eu era pequena,
O que fazia tudo parecer maior ainda!
Em notícia recente, soube que
Dessa casa
Não restou
Adobo
Sobre
Adobo
De tudo que ela era feita...

Vivências de infância são adubo...
Adultos, revigoramo-nos com elas!...

A água do pote vinha de um rio estreito e veloz
Que passava no fundo da casa...
Não havia poluição,
Havia peixes, muitos peixes!!!
Eu brincava com as piabas...
A água do pote era friinha
No copo de alumínio
Bem areado
Que reluzia!
Parecendo prata-de-lei
De algum rei
De tão polido,
De tão limpo!

No tempo das águas, na fazenda,
A gente pegava frieira, nas poças d´água parada,
Ou nos deliciosos caminhos encharcados de água de chuva!...
Imagino quantos vermes a gente pegava
E de quantos a gente escapava...

“Careta assenta em quem faz”, dizia a irmã do meu avô...
Morreu bonita, aos 94 anos,
Energizada por suas virtudes
Dentre elas
A da Bondade...

Espantalho – de braços abertos, no meio do milharal!
Chapéu de palha, camisa xadrez remendada,
Cara marota,
Um arremedo de humanos,
Espantalhos só espantam os pássaros...
A mim, eles me divertem!...
Gosto de ver espantalhos!

Unha-de-gato – seus galhos secos arranham até pensamento!...

Breu...
Escuro como breu!
Noite da alma
Negrume
Betume
Estrume
Curtume
Tapume

Palavras simples e desempregadas
Ganham brilho novo
Quando bem empregadas.
Exatamente como as pessoas desempregadas
Cuja auto-estima melhora
E lhes confere brilho novo,
Quando bem empregadas!...

O próprio nome de Dionísio me remete à Grécia Antiga.
O nome próprio desse autor
Relembra mistérios dionisíacos...

Chegam-me certas palavras
Como ganchos de invisível e monumental guindaste
De pescar emoções!...
Dimensionam-me.
Fracionam-me.
Emocionam-me!...

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BREU
Dionísio Teles

fez o silêncio!
uma nuvem negra passou
ninguém sorria
nada amanhecia
e eu mais perto do dia

o espantalho de folhas secas
de uma antiga unha-de-gato
fazia caretas
mudava de formas
assustava

silêncio incolor
do dia da criação
negrume calado
isento de dor
um momento parado

agora é breu
somente ele
e eu

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.