Setenta vezes sete

Euna Britto de Oliveira

A cidade determina a sorte
Ou é a sorte que determina a cidade?
O que solapou minha mocidade?
Se eu morasse na praia, iria virar uma arraia?
Pergunto ao santo de Acaia...

Mesmo fanhosa ou parcimoniosa,
A música existe!
Cubanos fugidos de barco
Não foram além da primeira ilha...
Náufragos, o Padre Sardinha e eu,
E aquele outro que índio comeu...

Lugares antigos me contagiam,
Fico cheia de lembranças...

Depois do almoço, vou tomar banho de cachoeira,
Mas a fila do restaurante é grande,
Minha senha é número mil.
O vento me assanha o cabelo e as idéias...
Uma pedra pode ser um abrigo
Uma detalhe na paisagem
Um abismo!...
Os despenhadeiros me despencam!
As cavernas me amedrontam menos.

Toma, Ezequiel,
Ou tu comes o livro, ou dizes!...
Come! Ele tem gosto de mel!...
Ou então eu te condeno a morar na cidade
Onde puseram em um cão o bendito nome de um Anjo,
Terminado em el...

Para mim, tanto faz sândalo como escândalo,
As duas palavras são proparoxítonas.
Os troncos de todas as árvores,
Se fossem um só,
E os fios de cabelo de todas as cabeças
Que existem e já existiram,
Emendados
Um por um
Com um nó,
Até onde chegaríamos?...

“Setenta vezes sete” – eis a conta mais difícil que aprendi!...

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BH - 1981

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.