Gaivota

Euna Britto de Oliveira

As flores já estão todas conversadas:
Umas darão frutos
Outras, cores
Outras, perfumes
Formas simples ou complicadas...

Cristais de esperanças estilhaçadas
Agregaram-se à minha janela
Como cristais de neve.
Breve, eu verei se aprendi mesmo da figueira!...
A fogueira é muito pedagógica!
Toda arrumadinha,
Um pau por baixo, outro por cima,
Labaredas, brasas, cinzas
Estalos, estilos, fagulhas...
E o tição aceso
Com que escrevo “menina”
Sobre a noite escura
Assim como se borda dourado
Sobre veludo negro
Com ouro enfiado na agulha...

Os tomadores da glória alheia
Têm caras tão inocentes
Que mais parecem sereias
Assoviando para marinheiros
E os tolos não se amarrarem...
Ponho-me em cima de um camelo,
Eu quero andar alegre!...
Na bolsa de um canguru,
Eu quero pular de alegria!

Se a gaivota não voar, fica idiota
Começa a catar ciscos-níqueis
Como um agiota...
Voar é preciso, claro!
É preciso furar a nuvem cor de chumbo
Porque detrás dela existe o azul.
É preciso colher rosas do sul.
Negligências passadas a limpo
Rascunho de paciências
Eis o que andei preparando...
Fineza não perturbar.
Estou me regenerando
Eu quero as coisas choradas, suadas, lutadas,
As coisas abençoadas
Que ninguém pode tirar!...

Se me concentro na folha, penetro na floresta.
O velho banco de trem
Que enfeita a varanda de uma casa
Pergunta-me por quem viajou nele,
As cidades onde andou...
E eu não sei.
Tudo me puxa
Me come um pedaço
Me arranha
Me envolve em casa de aranha
E eu vou...
Sensibilizada é a maneira que eu sou.
Mas se tivesse jeito, eu não seria.

"Eu sou o cipreste sempre verdejante.
Graças a Mim, ele colherá os seus frutos."
(Oséias – 4-9)

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.