Certos sentimentos...

Euna Britto de Oliveira

Às vezes, tenho um vago sentimento
De Maria Antonieta, Rainha da França...
Não de seu relacionamento
Com o esposo, Luís XVI,
Não de seus poderes,
Não de suas reinações,
De sua soberania,
Não de sua sugestão de brioches para o povo francês
Em lugar do pão...
Não de seus amores palacianos pelo Conde Fersen...
Mas de seus destemperos
De seus desesperos
De seus pequenos ganhos de alegria
De suas horas de simplicidade, em sua fazendinha...
De suas grandes, inesperadas e surpreendentes perdas!...
Um sentimento do seu testamento
Que li, curiosa, esperando saber
Para quem ela havia deixado seus anéis,
Seus colares, suas roupas...
Tudo lhe havia sido confiscado!
O que poderia ela deixar?...
Despojada de sua riqueza,
Seu testamento é um desabafo tão humano
Que qualquer mulher do povo
Em situação de provação
De privação da liberdade
Poderia assinar embaixo!
Um sentimento do mundo,
Que é o mesmo em qualquer pele,
Em qualquer lugar!...
Meu sentimento é de cumplicidade,
De vulnerabilidade,
De humanidade...
Parece que sofro o que ela sofreu...
Um sentimento de coleguismo no que ela tinha de igual
A todos nós!...
É que li sua seriíssima história,
Que aconteceu, de verdade!

Não sou Madame Dubarry
Mas agrado ao rei, que não é Luís XV...
Não aprendi em Paris,
Aprendi aqui mesmo,
Em meu quarto brasileiro,
Que o amor evoluiu, desde a Idade da Pedra Lascada,
E hoje pode ser tão virtual
Quanto auditivo, quanto visual!...
E tão silencioso quanto esta escrita
Que desliza sobre a folha em branco
E catalisa,
E contabiliza emoções
Que as gerações futuras
Interessadas em escritos plebeus
Poderão conhecer...
Ou não.

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Ilustração:

Escrita e assinatura de Maria Antonieta, Rainha da França.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.