Colar de Sangue...

Euna Britto de Oliveira

Tiraram o chão dos pés de Maria Antonieta
Ela jaz em sua cela
Na Conciergerie, sua sinistra prisão.
Para aterrorizá-la, da rua,
Mostram-lhe, na ponta de uma vara,
A cabeça de sua grande amiga,
A Princesa de Lamballe...

Certamente a rainha foi sustentada
Por força superior!
Bebeu o cálice até o fim,
Não se matou.
Esperou que a executassem,
Aos 38 anos de idade.

Foram tantos os guilhotinados!...

A guilhotina...
Até pequena,
Mas pesada, cortante,
Com a ponta fina!
Nenhum animal guilhotina um seu igual.
O homem, sim!

Os colares da rainha que descansaram
Sobre seu régio e níveo pescoço,
Na verdade, apenas roçaram
A parte do seu corpo que seria escolhida
Para secar-lhe a vida.
Pré-enfeitaram a morte.

Os justiceiros, em algum momento,
Devem ter sentido remorso.
Não se mata um semelhante impunemente.

Comovo-me com essa história, com essa execução,
Apesar dos séculos que nos separam.
Deve haver dentro da gente
Um espaço atemporal:
Não importam os anos,
As coisas estão acontecendo agora,
À revelia dos calendários...

La Conciergerie...
Eu a vi.
Entrei...
A antecâmera da morte.
Vi com olhos diferentes
Dos olhos passados da rainha...
Frustradas, quaisquer tentativas de resgate ou de fuga...
Vigiadíssima, nem viajadíssima ela era...
Qualquer turista moderno já viajou mais do que ela!

Na prova, a rainha rezava...
E Deus a ouvia e confortava.
Ele não abandona ninguém!

Que os governantes da terra
Percebam que é bom estar de bem com o povo!
O mesmo povo que endeusa,
Quando logrado, enganado, explorado,
Sabe ser cruel!

No lugar de colar de pérolas, diamantes, águas marinhas,
Um banho de bolhas de sangue azul
Do mais vibrante vermelho!
A cor púrpura viva, quente, francesa
Diante da multidão,
Na Place de la Concorde - Paris.

O que desejo para Maria Antonieta
É que ela esteja em completa segurança
Junto ao Rei do Reis,
Em um bom lugar!


Já senti sua morte,
Já prestei minha homenagem,
Já recomendei sua alma a Deus...

Agora, chega, não é, Majestade?
Agora, sinto vontade
Da minha própria identidade!...

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Belo Horizonte, 2004

Ilustração:

Maria Antonieta, em sua cela, na prisão.
Moralmente devastada.
Sempre muito vigiada.

Envie este Poema

De: Nome: E-mail:
Para: Nome: E-mail:
Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.