No acampamento cigano...

Euna Britto de Oliveira

A fada madrinha visitou a tenda do cigano
E deu-lhe metros de pano, rendas e fitas
Para as saias e as anáguas da cigana...
Celeste, a cigana,
Hoje é rainha e não me deixa sozinha.
Em seu Romani retransmitido pela tradição,
Transmuta a linguagem oral
Em fala ocasional não-nacional.
Eu, que gosto da fala, das Línguas
Queria aprender Romani,
Mas com quem?
Seria mais fácil encontrar
Quem me ensinasse Mandarim!...
Foi por acaso que passei no acampamento.
Ninguém chega, sem apresentação,
A um acampamento cigano.

Já que estou ali, já que a cigana me aborda,
Aproveito pra perguntar sobre alguém...
— "Ele vai chegar de avião,
Vai tocar a campainha da sua casa,
Vestido com uma bermuda vermelha!"
— Mas não é possível que ele chegue de avião,
Vindo do frio, do Exterior,
Vestido de bermuda, ainda mais vermelha!...
— "Ele não vai direto pra sua casa, primeiro vai passar num hotel."
— Quando isto vai acontecer?
— "Dou o prazo de um mês!"
— E se isto que você prediz não acontecer, Celeste?
— “Se não acontecer, pode vir aqui e me dar um tapa na cara!”
— Isto é que não vai acontecer mesmo, Celeste!
Nunca vou lhe dar um tapa na cara.

De todos os que me enganaram,
A que mentiu com mais manha, com uma sabedoria tamanha,
Foi a cigana...
Analfabeta, com calor humano,
Leu as linhas da minha mão...

Toda mentira
Que me disseram,
Deus cura!

A cigana me enganou com tanta doçura!...
Gostei de estar com ela e de ouvir a história de sua vida...
Divertiu-me!...
Acima de tudo, iludiu-me.
Mas todo mundo sabe que iludir é uma arte
E deixar-se iludir é uma opção...
Vontades que a gente faz ao coração...

Ciganos, também, são filhos de Deus!
E tão lindos!...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.