No engarrafamento...

Euna Britto de Oliveira

Na estrada...
Há uma hora, estamos num engarrafamento, que se prolongará
Por mais uma hora.
O outro lado da pista está livre...
O lado em que me encontro, atravancado.
Desligo o carro.
Como uma pêra sem lavar mesmo,
Apenas a esfrego na perna da calça jeans,
Pra limpar superficialmente.
Perniciosa espera,
Deliciosa pêra!
No carro de trás, um casal e um cachorrinho.
A mulher, entediada,
Apóia os pés nus no vidro dianteiro do carro.
Bizarros, esses pés de cinco dedos cada um,
Normalíssimos, morenos,
Dos quais o sangue é afugentado
Pela pressão contra o vidro.
Tornam-se as suas extremidades pálidas...

Depois de algum tempo de espera,
Sai do carro o casal.
Quem eu pensava ser uma mulher
Não é uma mulher,
É um adolescente, de cabelo grande!...

O motorista do caminhão ao lado
Saca do lado de dentro da porta do caminhão
Um copo de água mineral, e desaltera sua sede.
Pesco pensamentos verdes na serra que me ladeia.
Plantinhas espertas postam-se como
Senhoras curiosas nas janelas das favelas...
O sol já declina.
Em viagem, provisão é necessária,
Estou sem água, a viagem seria curta.
O caminhoneiro volta a beber sua querida água!
Nem estou com tanta sede assim,
Mas o seu gesto incentiva minha vontade...
Mereço!
Jovens atletas candidatam-se a benesses.
Os porquês não se acabam...
— “Se você deixar um pouco a internet,
Quem sabe, visita a Ivonete?”
De longe, espirituosa, brinca comigo a Ivone,
Um dia antes, ao telefone...
Mensagens dentro de garrafas singram os mares do mundo...
Nas ondas da internet, soltam-se palavras...
Era um caminhão de gás, tombado.
Desimpedida a estrada,
Prossegue a viagem...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.