Calor humano

Euna Britto de Oliveira

01/01/1984

Dormir ao relento,
sofrer de frio, com o vento,
com gente quente ao meu lado...
Até as vacas se aquecem,
esquecer, não esquecem,
porque nunca se lembraram!

A praia está queimando em primeiro grau,
as meninas estão cursando o primeiro grau,
eu estou subindo o primeiro degrau...
Para a frente e para o alto!
Quem olhar para trás
vira estátua de sal!

Meu short, minha sorte, minha morte,
uns três dedos de aguardente pra marcar
meu passaporte,
cerveja, cerejas, percevejos de aço;
meu choro, meu riso,
meu passo, meu compasso,
meu cadarço, meu cansaço...

Submerjo e busco a pérola, o prisma,
o Sacramento do Crisma...
O limbo não existe mais!
De luz ou de escuridão,
todos nós somos canais!...

Alguém me espera
na sala de espera,
a outra metade da laranja.
Ando movendo moinhos com águas passadas,
ganhando água e perdendo terreno,
distraindo-me com cardumes
e velhas palavras enfileiradas...

Frases soltas, como lobas soltas,
uivam em meus ouvidos, querendo abrigo,
e eu as rechasso!
Trago os olhos carregados de estrelas!...
Do terraço, vi as três marias
e a falta d’água em milhares de planetas!...

Aos trancos e barrancos,
construímos nossa casa,
não a nossa paz,
isso que nem sabemos
como se faz...

Lentos demais, foi devagar que vimos
as pontas das igrejas furando a consciência da cidade!
Quando eu morrer,
acho que vou ficar zonza,
sem saber nem onde estou!...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.