Desabafo

Euna Britto de Oliveira

A ponta do manto sagrado cobriu minha nudez.
Foi-me dado um lugar espaçoso onde eu quase subia nas paredes por falta de ar!...
Um carma se desfaz com sabedoria e graça.
Sem isso, é coisa para a vida toda, a não ser que seja leve...
Eu me peço muito para não contrair dívidas,
Principalmente dívidas de amor.
Estou cansada de pagar, quero descanso, brincar.
Trabalhei com gente rude,
Sendo eu mesma também rude,
Mas minha vinha rebentou em frutos,
E estou recompensada.
A coisa mais densa e pesada é a vibração de um inimigo.
Parece força do inferno, onda de morte,
Impulso que quer derrubar.
Já vacilei demais, hoje sou dura na queda,
Porque encosto em quem me fez.
Suave como alfazema é a presença do amigo,
Que envolve em halo de prata as própias horas,
Expandindo a nossa aura...
Eu fui quase eclesiástica.
Uma árvore de flores aleijadas imita o coral de meus hibiscos.
Benza Deus aquele jardim onde conseguiram que vingasse o pé de hibisco amarelo,
De todos, o mais difícil, não o mais belo.
Nunca mais é uma expressão que não me agrada na prática,
Só porque corre o risco de nunca mais ver meus três amigos, do país da minha filha...
Meus pais, já não vejo mais.
Eu tinha fluidos e você tinha fluidos,
E nossos fluidos eram semelhantes e nos atraíam.
Alguma coisa perturbou nossa harmonia.
A vida é assim,
A gente nem sempre é assim,
Tem uns que não aceitam.
O sentimento verdadeiro é a minha maior verdade.
Um dia, a Terra não vai mais ser planeta de expiação.
De muita coisa, eu não vou ter lembrança, nem saudade.
Tripulam discos voadores os que ressuscitaram?
Ando tomando o santo nome em vão.
Pensar que só tem a gente no universo é fazer mau juízo d´Ele.
Alguém anda pregando que dor nos ossos é problema com antepassados.
Nunca tive dor nos ossos.
O reino dos céus é de magnetismos.
O girassol é um grande exemplo de tropismo.
Agora, eu vou fazer uma coisa que todos os reis e rainhas da terra fazem:
Vou pedir mais poder e agradecer o que tenho.
Ninguém segura a morte, mas segura-se a vida, energia positiva é a sua clara comida.
A morte come é trevas.
O misticismo vem vindo atrás de mim desde pequena.
Já fui ao catecismo, às reuniões da Cruzada, freqüentei colégio de freiras,
Todo dia vou à Bíblia;
Ou sou eu que vou atrás dos místicos?...
Não sei que atração é essa, vivificante e adstringente.
Caminho-sem-fim era o bordado branco de linha de seda em minha saia azul claro.
A outra, que há 22 anos desceu rio abaixo,
E a lavadeira me falou, sem saber que eu ia sentir tanto,
Era cinza com aplicações de "guipure", e fitas de liga-lacê, de efeito maravilhoso.
Minha Mãe que fez as duas.
A primeira foi do tempo de meu primeiro namorado.
Nenhum de meus namorados sabe que número ele foi. O primeiro, sim.
A segunda foi do tempo de namorado nenhum, por isto, eu a amei mais.
Tem hora que eu penso que umas mortes são carne amuada, enguiçada, chilique chic.
Depois, todos vão continuar, com mais resistência, menos manha, mais ciência!...
Pela primeira vez, estou escrevendo um poema sem fim, que nunca mais vou acabar...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.