Desconhecimento...

Euna Britto de Oliveira

O cansaço que me cansa é o mesmo que me dança
Meus filhos não me conhecem
Ou pelo menos não me conhecem direito
Nem eu mesma me conheço completamente
Quando nasceram
Eu já existia fazia tempo
Não viram minhas moradas de antes
Não me viram namorada
Nem meus primeiros amigos
Nem minha infância adorável
Nem minha adolescência
Nunca me viram no tempo em que eu tinha mãe
E quando mesmo sem mãe
Eu tive juízo
Nesse tempo em que antes deles Existí
Fez também frio calor
Tive surpresa certeza
Engano alegria tristeza
Ganhos perdas
Perdas ganhos
Tive minhas dúvidas
Minhas dividas
Pensei em tudo o quanto há
Experimentei sentimentos
Senti ressenti pressenti
Insistí desisti
Prossegui
Fiz e desfiz castelos
Planos aeroplanos viagens
Cuidei e descuidei de jardins
Meu corpo cofre
Guarda os registros de mim
Nadei em rios rasos e fundos
Mares de águas pardas ou azuis
Lagos lagoas piscinas
E não me afoguei nenhuma vez
Ao contrário
Afogueei-me com o calor
De cada verão
De cada versão de mim
De cada fogueira
Fogão a lenha
Com cada elogio e rasteira
Peguei gosto por pimenta
E por apanhamento taquígrafico
Que nem todo mundo aguenta
Também não conheço bem meus filhos
Conheço-os só a partir do nascimento
Quando muito
Desde a ocasião de sua concepção
Não sei precisar o momento
É muito mistério para nossas costas
São muitas vidas para uma só existência
Ou uma existência para muitas vidas
É Deus brincando sério com a gente
Com sua paciência toda
Ele quer nos ensinar amor
E vai nos encaixando nos séculos
O que aprender primeiro
Ensina para o outro!...

Belo Horizonte, 04/03/2015

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.