Cobertura

Euna Britto de Oliveira

Foi minha a escolha de construir a casa
com vista para esse lado,
por causa das “matas do Luciano”,
mini-floresta urbana,
que desapareceu com o progresso,
como visita em fim de festa!!!...

Do ponto mais alto,
que se tornou meu mirante,
olho o lado oeste da cidade,
como quem olha o mar...
Belo Horizonte se confunde com o horizonte.
Tanta gente aqui mora,
demora,
namora,
vai embora...

Meu pensamento, piloto privado,
sobrevoa tempos e telhados,
e não acha o que procura,
um acendedor de sol em gente!

Uma chuva oblíqua molha os olhos oblíquos do moço,
nessa viagem sem retrovisores.

A vida é só para a frente,
um dia não ultrapassa o outro,
só passa um,
de cada vez,
no túnel estreito do tempo...
Ninguém vai frear de repente,
porque a vida não pára!
Ninguém vai ficar para trás,
porque a vida empurra a gente,
e não há ângulos de colisão
quando se aprende a lição.

Olho os prédios com seus descascadinhos,
virtuais navios ancorados,
que a virtual maresia marcou...
Dentro deles,
passageiros,
os que são,
foram
ou serão
felizes...

Um menino magoado,
que a experiência ensinou,
hoje refeito, competente,
cuidadoso, exigente,
esperto, desperto,
é ser humano excelente!

Olho a torre da igreja,
olho a cidade,
cheia de privacidade!!!
Onde estará quem não está?...

Um bem-te-vi pousa na grade da tarde,
e eu continuo balançando
em meus sete anos de rede...

Troca de poder comigo, bem-te-vi?...

Belo Horizonte, 18/10/99.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.