Saudade

Euna Britto de Oliveira

—“Saudade, Meu Bem, saudade...
Saudade do Meu Amor!...”

Assim, vai cantarolando
a canção de antigo filme nacional,
a moça que quer se consolar,
tentando se remendar
e remediar sua paixão...

Saudade é a urgência de estar ao lado de alguém,
é o choro silencioso da fome do coração,
é a carne que se rasga
sem demonstrar nenhum rasgão!

Não sou a primeira, nem serei a última
a sentir e a observar que a saudade,
esse sinal de humanidade,
dói muito!...
Ai, como dói uma saudade!
Mas não se pode viver doendo.
Seria o mesmo que viver morrendo...

Por isso, pego a saudade,
ponho-a debaixo do chuveiro,
se estiver frio, água quente;
se estiver quente, água fria!!!...
Lavo seus cabelos,
massageio seu corpo
com sabonete cheiroso e bucha vegetal,
pra melhorar a circulação...
Ponho uma roupa bonita nela!
Adornos!!!...
Passo perfume em seus pulsos,
atrás de suas orelhas,
em sua nuca!!!...
Calço-lhe sandálias cômodas,
ofereço-lhe uma xícara de café bem quente,
confiro a gasolina do carro,
e levo-a a passear!...
Não é que a saudade melhora?...
E dá lugar à saúde!

Saudade parece gente – quer trato!
Por isso, é preciso ter saúde,
para agüentar o tempo que ela durar,
e para correr atrás!...

Pode ser que encontre quem ela quer,
talvez à mesa de um bar...
Aí, a saudade melhora,
sossega...
E é bom demais!...

De saudade, a gente trata!
E depois mata!
Quem não gosta de matar uma saudade?...

Deu muita saudade de você hoje, Vicemira!...
Saudade de sua amizade, saudade de sua solidariedade, saudade de sua inteligência, saudade de seu coleguismo, saudade da voz de sua experiência, saudade de nossos esforços comuns, nas provas do Colégio, saudade da casa de seus Pais,
em Campanário, perto de Governador Valadares, que eu revisito, só de ver... a cada viagem através da rodovia da qual ela fica à margem, num alto, e me leva à Bahia...
A tudo aquela casa assistiu, assistirá, assiste!...

Você, tão desenvolta, responsável, decidida, cheia de iniciativas e de sabedoria!...
Cheia de conhecimentos sobre a cidade de Vitória, no Espírito Santo, onde chegou a estudar, longe de casa, e onde iniciou e interrompeu o Curso Científico, o que lhe deu base, e acabou por fazer de você campeã, nas aulas de Química, em nosso Curso de Formação (Magistério).
E os bombons GAROTO, que recebia de Vitória, e repartia com nosso grupo?...

Vitoriosa Vicemira!!!
A tudo você não mais assiste!
E no entanto, existe!
Sem dúvida, você existe!

O poema já estava escrito, há muito tempo!...
Mas deu vontade de ilustrar com sua foto, pela saudade que sinto de você hoje,
pela saudade que sinto de sua saúde,
neste momento!...
Uma saudade forte, súbita, estranha!...
Pode ter sido por causa da foto, que era muito pequena, num grupo, desfile do Colégio,
em Itambacuri, numa parada de 7 de algum setembro!...
Foto em que eu a selecionei e aumentei no computador.
Pode ser que o Alzheimer, de que foi acometida ainda jovem, tenha desocupado você...
Só Deus sabe!
Perdemos contato.
Sei que se casou com um engenheiro, seu conterrâneo, teve filhos, foi morar em Salvador,
eu vim morar em Belo Horizonte.
Mas amizades verdadeiras sempre acham um jeito de fazer algum contato!
O que você quer me contar?
Tomo nota deste dia.
Um beijo em seu coração!
Euna.
Belo Horizonte, 02/08/2005

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.