Alongamento

Olhos de ver montanhas,
pés de pisar praias,
coração que ama planícies,
eis-me aqui,
sem saber onde um dia
serei plantada...
Quero essa surpresa até o fim!

Arquivados na memória da carne,
o prato sem fim de lentilhas e arroz,
a imensidão do sal na água,
a paz de poder rezar
e meditar
sozinha,
um dia inteiro!...
A porta,
a campainha,
a companhia dos cães,
das pombas,
de um coelho...
Uma dorzinha manhosa
na junção dos ossos,
dois palmos acima de um joelho...
O sol irregular,
irrevogável
e irregulável
dos dias de nuvens...
A prataria das lojas,
dos museus,
das igrejas,
da casa...
O retrato no jornal,
a espera,
até tarde da noite,
pela volta de uma filha,
que foi a uma festa...

O vento soprando em cima de meu coração,
folhas e ciscos rolando seus barulhinhos no asfalto da rua...

Esperei,
apreensiva,
com medo,
mas não esperei em vão!...

Abre-se a porta do carro!
Fecha-se o portão!
A filha chega,
sã e salva!
E divertida!
Acalma-se meu coração...

Não venha me dizer agora, Philippe,
com seus treze anos de planeta Terra,
a mim, que já estou há muito mais tempo aqui:
— "A vida é sofrida!..."
Sofrida ou descansada,
a vida é pra ser vivida!...
Enxertada na vida,
a morte é uma enxerida!