Poder

Euna Britto de Oliveira

Descubro que tenho alguns poderes.
Uns já existem, outros vão-se desenvolvendo...
Quando se cumpre um novo poder,
Sinto-me “toda poderosa!”
Um velho e esporádico poder que tenho é o de salvar.
Salvei a menina Osvaldina, que caiu do barco
E ia se afogar na lagoa;
O casamento de uma amiga, segundo ela própria,
E muitas vezes o meu;
Uma ave comum, com um só e imenso curativo;
Uma laranjeira, que depois matei;
Antes das câmeras digitais,
Salvei filmes arrebentados dentro da máquina fotográfica,
Debaixo do cobertor, no escuro...
E o grão que caiu na pia,
Quando eu lavava o feijão.
Aquele grão iria se transformar em nossa carne
Ou descer pelo ralo da pia, pelo labirinto do esgoto,
E seguir obscuro destino
Que não era o seu!
Não, ele não seria excluído!
Virou comida, junto com os outros,
Salvei-o!

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Belo Horizonte, 1998


FOTO:

Homenagem póstuma à querida Dona Conceição, que ganhou novos
poderes junto a Deus, pois com Deus ninguém perde!...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.