Retiro sem Lareira...

Euna Britto de Oliveira

Brasas,
cheiro de madeira queimada,
calor,
colar de estalos,
lugar fácil para queimar papel
com escrito sigiloso ou ultrapassado,
e ainda espaço para enfeites,
castiçais,
porta-retratos...
Tudo isso, se houvesse uma lareira!
Coração é gato manso perto de calor de fogo...

Gosto quando todos vão para o sítio
e fico só em casa,
com os cães, o coelho, as pombas...
Com as plantas para adubar e regar.
Então, confiro o cheiro do manjericão,
do alecrim,
das flores coloridas que gostam de mim!
Olho os vasos que me agradam
por somente enverdecer...
Tenho um fraco por folhagens!

É então que faço meu retiro.
Eu me concentro ou me espalho,
e o espelho me diz:
— Podes ficar à vontade,
desta vez, eu não te atalho!

A misteriosa linguagem das coisas
em suas várias posições e disposições,
certos toques de campainha
casados com certas horas...
Reflexos secretos da alma,
que se projetam nas nuvens...
Manchas na cerâmica do piso do banheiro,
que não são manchas...
São um código que desconheço,
mas me atrai.
O mundo feito de transparências,
efervescências
e evanescências...
Tudo que eu vejo e não é!
Tudo que não vejo e é!
A realidade aparente,
e uma mão me chamando:
—Vem com a gente!

Vou nada!...
Ainda não estou preparada.
Obrigada!
Só Deus sabe a hora marcada!

Belo Horizonte, 1985.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.