Voo Noturno

Euna Britto de Oliveira

Cheguei há oito dias
e ainda não acabei de chegar!...
Sou assim,
demorada pra "cair a ficha..."

Deve se sentir poderoso,
com a memória refrescada de que é feito
à imagem e semelhança de Deus,
o piloto que faz roncar os motores do resolvido avião
e o faz levantar-se,
arremeter-se,
arrematar dificuldades,
ganhar os céus ,
sobrevoar cidades,
atravessar o oceano
e chegar a seu destino!
Lanches,
atenções,
recomendações
e olhares de comissários
e comissárias de bordo,
palavras
em línguas de múltipla escolha,
televisõezinhas que mostram filmes
e os alternam com informações
sobre a localização do avião e sua rota,
num vôo virtual,
simulado sobre um mapa...

Lá embaixo,
colchão de nuvens,
ou nada que impeça a visibilidade
de montanhas,
planícies,
cidades,
rios,
paisagens...
E as pessoas,
que não se vêem,
mas se adivinham...
Porque existem e estão lá!

Cá em cima, a minha inveja
dos carros que avisto
da janela do avião,
quando ele se prepara para descer
e mostra, claramente,
com solavancos,
descendo os degraus do ar,
que aterrissar,
como decolar,
não é fácil!
Haja perícia e habilidade
por parte dos pilotos!...

Ô inveja dos carros cada vez mais próximos,
que escoam pelas ruas e estradas,
diante de meus olhos!...
Eles estão no chão, e eu,
ainda não!

Felizmente chegamos bem!
Desço do avião
e vou cuidar da minha vida...
O comandante, o co-piloto
e as aeromoças vão continuar,
dia após dia...
Vão se aposentar
ou envelhecerão voando,
porque são um pouco pássaros.

De vez em quando, por necessidade,
tomo carona na vocação deles.
Voar é um milagre!

Belo Horizonte, 27 de julho de 2004.

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.