Confronto

Euna Britto de Oliveira

26/09/2005

Elas estavam lá,
Muito antes de nós,
As árvores!...

Chegamos.
Algumas nos cederam lugar,
E fez-se a clareira.
Uma pequena multidão continuou postada,
Em guarda protetora e amiga,
Oxigenante, oxigenada...

Pouco a pouco, fomos nos conhecendo:
Jacarandá, ipê, acácia, quaresmeira,
Cedro, vinhático...
Madeiras comuns e de lei, misturadas...
Mais as plantas medicinais nativas,
Boas para os rins,
Para o fígado,
Para o diabetes,
Para emagrecer...
Panacéia, quebra-pedra,
Unha-de-vaca, carqueja...

Todas tiveram de nascer de novo
Onde já havia sido roça,
Plantação de café,
Lavoura dos homens...
Por isto, essa mata é fina, renascida!
Umas árvores parecem adolescentes, mocinhas.
Outras parecem meninas.
Poucas assemelham-se a senhoras!...
Certamente, as que desde sempre
Foram preservadas.

Nós somos os que riem e respiram,
Queimam galhos secos de fumaça azul,
Plantam flores da cidade
Entre a humildade e a umidade,
Armam barraca de pano,
Desengano de mansões...

Um dos nossos,
Para espantar e afugentar,
Espancou um cão vadio.
O cheiro do churrasco em trempe improvisada
Atraiu o cão.
A presença do cão despertou o carrasco
Em um de nós!

As árvores agora sabem de nossa violência!
Estou com vergonha das árvores.
Escandalizadas,
Ainda ficam conosco,
Porque uma árvore não foge nunca!
Testemunhas de nossas mãos,
Facas e unhas,
Vão descobrindo que temos dentes,
Jogadas inteligentes,
Carro conversível,
Condição reversível,
Coração volúvel,
Mantendo a carne solúvel...
Vão inferindo que somos os homens,
Incompatíveis com a bondade pura.
Em linguagem florestal,
Um feixe de joio e trigo.

E as árvores nos deixam ser nós mesmos...
A sociedade das árvores e plantas que eu amo!...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.