O RELATOR

Celeste Aída de Assis Foureaux

Espero com ansiedade por meu dono;
Marcamos hoje aqui neste lugar
Encruzilhada dos destinos deste mundo
E eu à beira do caminho até Ele chegar!

É certo que virá, pois não me falha nunca,
E sabe que sofri, chorei a mendigar,
Cão andarilho e sujo, mas missão cumprida!
E agora aqui em paz, estou a esperar.

E Ele que não vem... já fico a divagar...
Não me esqueci de nada deste acordo:
Eu na Terra para Ele trabalhar
E até o fim dos tempos, a seus pés, o meu lugar.

Então desci aqui e vim observar
A gente, sua vida, seu sofrer e seu valor.
E num difícil relatório terei que declarar
Nobreza, dignidade, caráter e amor.

Lá vem o índio triste que não faz mais guerra
Mesmo sendo o verdadeiro dono desta terra
Tratou-me com ternura, me deu seu pouco pão
E vi que tem bondade e amor no coração!

E veio o homem branco a espalhar pobreza
Enxotou-me dali, mostrou sua maldade.
E a sua alma negra me deixou certeza
Que ele tocou o índio e fez sua cidade.

E veio o homem negro cheio de nobreza
Serviu ao homem branco com humildade e paz
E a sua alma branca me deu outra certeza
Jamais se viu no mundo raça tão tenaz!

Entre muitos mais que vi, eu vi mulheres belas
Almas vermelhas e quentes sempre a flamejar!
Povoaram a Terra e se foram elas
Pra outras longes plagas abrasando o ar.

Depois de tudo isso, a terra estremece!
Meu coraçãozinho bate forte e quase explode,
Agacho humildemente, pois sei o que acontece.
E penso forte Nele porque sei que me acode.

E lá na ponta do caminho eis que surge
Grande trovão dourado a fagulhar,
Bola de fogo imensa, cegando os olhos meus.
E eu pulo para ele, porque meu dono... É Deus.

Celeste
janeiro/99

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.