Ajoelhou? —Tem que rezar!...

Euna Britto de Oliveira

Eu me estropiei na horizontalidade do meu nível.
Depois de uma cancela, outra cancela...
Depois de uma favela, outra favela,
apesar dos prados despertencidos
e dos oásis
e dos jardins queridos,
recesso para meus excessos,
para meu descaso,
para meu descanso.

Há o medo
e a angústia
e o banzo...
Por isso,
onde houver um degrau a meu alcance,
eu subo!
Ou pelo menos tento subir!...

Cansei-me do meu nível viscoso,
que me trava os passos,
onde só rompo de joelhos,
em estado de oração!
É isso:
Na plataforma em que estou,
não adianta tentar andar, e muito menos correr,
porque os pés se agarram ao chão pegajoso.
É só de joelhos que consigo romper,
em aclive!
Até chegar ao ponto em que poderei caminhar livremente,
sem nada pra me tolher e impedir os passos...
Mas isso aí já é a santidade.
Estou longe dela!

Custosa é a verticalidade!...
Como num gráfico de Estatística,
meu espírito pode descrever curvas que sobem
e descem,
pra subir novamente!...
Vacilo.
Como o equilíbrio é custoso!...

Recebi o poema? —Tenho que passá-lo adiante!...

Belo Horizonte, 1980
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Ilustração: Dona Almezina Maria de Jesus com Nina nos braços, com meses de idade...
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Ofereço este poema à querida Dona Almezina Maria de Jesus, 79 anos, que ontem,
dia 3 de novembro de 2005, veio me visitar, porque somos amigas da Verdade e de verdade!...
Achou, caída no chão do meu quarto, onde conversávamos, perto da cadeira com as pastas de meus cadernos de escritos, uma folha amarelada pelo tempo, que um dia fora branca, e me entregou nas mãos, num gesto de entrega cuidadosa que só ela sabe gestar...
Penso que nada é por acaso.
Posto que Dona Almezina não sabe ler nem escrever,
recebi o papel e li o que estava escrito nele.
Era isto aí.
Docilmente, copiei o que um dia escrevi nessa folha.
Agradeço a Dona Almezina pelo resgate deste poema!
Estava perdido e, ao ser encontrado por ela, pôs-se em destaque,
entre dezenas de outros...

Para o que é que Deus não usa Dona Almezina?
Iluminada e muito chegada a Ele!
Um instrumento afinadíssimo!...
Recebi o poema? — Tenho de passá-lo adiante!...

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Sinceros agradecimentos pela preservação da Autoria.